quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Divulgação de carta alarma especialistas

Psicanalistas e psicólogos criticam gesto da família de liberar documento

O gesto da família da atriz Leila Lopes de divulgar trechos da carta que ela deixou ao se suicidar alarmou especialistas. Eles entendem que a leitura do documento pode estimular pessoas em sofrimento psíquico a repetir o ato.

Os trechos da carta foram liberados pela família de Leila, encontrada morta na quinta-feira passada, e tiveram divulgação ontem em alguns sites e agências de notícias. Tradicionalmente, a imprensa brasileira não publica informação sobre suicídios. O pacto não escrito assenta-se na percepção de que a divulgação dos atos incentiva novas mortes.

O psicanalista Mário Corso considerou grave o precedente.

– Não tem de publicar isso. Não é esclarecedor e não traz vantagem para ninguém. A pessoa deprimida que lê a carta pode se sentir traduzida e motivada por ela. Quem está namorando a ideia da morte e vê esse exemplo, pode reunir coragem – alerta.

O fato de se tratar de uma pessoa famosa, diz Corso, amplifica o risco da divulgação da carta. O psicanalista observa que, no imaginário popular, virar artista da Globo e ser reconhecido na rua, como Leila, representa o ápice do sucesso.

– A pessoa pensa: se ela que é famosa e linda se mata, por que eu que não sou nada disso não vou me matar? – diz o especialista.

Famosos podem influenciar as pessoas, diz especialista

O chefe de saúde mental do Hospital de Pronto Socorro, Jair Segal, também ressalta que a divulgação da carta de Leila Lopes, por ser uma pessoa nacionalmente conhecida, pode influenciar milhares de pessoas por todo o país:

– Pode ser uma escolha, uma definição de problemas para muita gente.

Para Segal, a escolha da família em mostrar detalhes das últimas palavras escritas pela atriz é uma forma de alívio.

– Eles podem estar se sentindo culpados por não ter conseguido impedir. É claro que não têm culpa, mas serve de purgatório – analisa.

A doutora em psicologia Blanca Susana Guevara Werlang, coordenadora do Grupo de Prevenção e Intervenção em Comportamento Violento da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), defende que os meios de comunicação devem falar em suicídio, mas sempre no viés recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): de orientação, educação e prevenção. A especialista concorda que a divulgação de informações como a carta de Leila Lopes é de risco.

– Pode ser um disparador para quem está em situação de vulnerabildiade. Até se pode publicar que a pessoa deixou uma carta, mas não o teor dela. É preciso ter muito cuidado com isso – avalia.

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