segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tanatologia e Ernest Becker

A morte paira sobre todos nós, mas na maior parte do tempo as pessoas tentam evitar pensamentos sobre ela. O sucesso de produtos antiidade e o aumento da função do hospital, como o defensor da vida além do tempo depois que a qualidade de vida diminui são duas coisas que comprovam isso. Na maioria das culturas, as pessoas evitam pensar sobre a morte, ao passo que em outras, porém, o assunto é considerado fascinante. Uma escola de pensamento inteira é dedicada ao estudo da morte e do ato de morrer - junto com seus processos, como a tristeza. Essa área se chama tanatologia.
Os tanatologistas acreditam que os humanos dividiram a morte numa tentativa de nos fazer acreditar que não vamos morrer. Infelizmente, se não encararmos nossa própria mortalidade - ou até mesmo a mortalidade das pessoas em nosso redor - seremos pegos de surpresa quando a morte inevitavelmente bater a nossa porta. E, pior ainda, deixaremos de viver nossas vidas da melhor forma possível. Os tanatologistas dizem que a pessoa que aceitou sua própria mortalidade irá aproveitar a vida completamente.
As pessoas que estudam a morte - como médicos, donos de funerárias e psicólogos - dizem que, antes do início do século passado, a morte era uma parte bem visível da vida na cultura ocidental. Quando uma pessoa morria, era mais provável que fosse em casa. O corpo dela muitas vezes era colocado em um sofá ou em uma cama na sala de estar, por incrível que pareça, e as pessoas comiam ao redor dela. Os membros da família dormiam perto do corpo da pessoa querida. Elas pediam que fotógrafos profissionais tirassem fotos da família reunida ao redor do corpo, que algumas vezes era apoiado com os olhos abertos para parecer que ainda estava vivo.
Esse processo costumava acontecer por alguns dias, antes que a pessoa fosse enterrada. Adultos e crianças tinham contato com o corpo. Dessa maneira, uma criança se tornava familiarizada com a morte, e estava comprovadamente mais pronta para encarar sua própria mortalidade do que as crianças de hoje.
Então, por que é tão difícil para algumas pessoas encararem a morte? O medo do desconhecido com certeza é uma razão, mas existe um outro aspecto, que é mais sublime e está baseado na medicina moderna.
Há um século, uma pessoa com câncer morreria. Uma pessoa com acesso à tecnologia médica de hoje tem uma chance muito maior de viver. Dessa maneira, algumas pessoas começaram a ver a medicina como um jeito de enganar a morte, e em vez de encarar o fato de que irão morrer algum dia elas esperam que a medicina as salve de seus destinos inevitáveis.
Isso é o que o psicólogo Ernest Becker considerava uma distração. Becker ganhou o Prêmio Pulitzer em 1974 por seu livro "A negação da morte". Becker acreditava que a cultura como um todo servia para nos distrair de nossas mortes iminentes. É como se estivéssemos na mesma montanha-russa, que está se movendo lentamente em direção ao topo. Esse topo é a morte, e cada um de nós acabará chegando a ele. Nessa metáfora, a cultura seria um conjunto de televisões gigantes em cada um dos lados do percurso da montanha-russa, que algumas pessoas escolhem assistir em vez de olhar em direção ao topo e imaginar o que está além dele.
Embora algumas pessoas se deixem distrair, todos nós estamos, contudo, inconscientemente cientes de que nosso tempo na Terra é limitado. Na opinião de Becker, isso causa sentimentos de ansiedade e angústia que são expressados por meio de atos agressivos, como invasões e guerras.
A área de estudo de Becker - conhecida como psicologia da morte - sugere a pior maneira de morrer. Como a cultura tem o potencial de nos distrair para não encararmos a morte, isso pode fazer que desperdicemos nossas vidas. O pior tipo de morte, de acordo com a teoria Becker, seria aquele que sucede uma vida insignificante.