quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Por muito tempo achei que a ausência é falta e lastimava, ignorante , a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta sem ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada em meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim".
Carlos Drummond de Andrade
(in memorian da minha amiga Érika Santana)


Luto p
elas "pequenas mortes" - Maria Júlia Kovács


" As perdas e a sua elaboração fazem parte do cotidiano, já que são vividas em todos os momentos do desenolvimento humano. São as perdas por morte, as separações amorosas, bem como, as perdas consideradas como "pequenas mortes", como, por exemplo, as fases do desenvolvimento, da infância para a adolescência, vida adulta e velhice. São também vividas como "pequenas mortes" mudanças de casa, de emprego. O matrimônio e o nascimento do filho também são "mortes simbólicas", onde uma pessoa perde algo "conhecido", como o papel de solteiro e o de filho, e vive o "desconhecido" de ser cônjuge ou pai. Estas situações podem despertar angústia, medo, solidão e, neste ponto, trazem alguma analogia com a morte. Carregam em si elementos de sofrimento, dor, tristeza e uma certa desestruturação egóica. Um tempo de elaboração se faz necessário".

(Maria Júlia Kovács. Capítulo 9: "Morte, Separação, Perdas e o Processo de Luto". In: Morte e Desenvolvimento Humano. 2 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992, pp. 163-164).