quinta-feira, 25 de junho de 2009

Comentário

Ao ler o artigo “No banheiro da escola, um tiro” (Revista Época, p.164-166, mai/2009), uma preocupação me rodeou, dentre tantas outras.
Como educadora, fiquei pensando na Escola Bom Jesus – Curitiba, onde aconteceu o suicídio da jovem Ana (nome fictício) de 15 anos. As escolas, geralmente, não sabem como lidar com esse tipo de situação, afinal escolas preparam para a vida. No entanto a morte faz parte da vida.
Educadores tem que estar preparados para cuidar de situações como essas, pois como ficam os alunos?Os amigos? Os não tão amigos? Os pais? Os funcionários e também os professores? Todos precisarão de apoio para enfrentarem a situação.
É importante falar, discutir o assunto, ouvir, homenagear e principalmente não calar. As escolas, muitas vezes, acham que não falar sobre o assunto é a melhor maneira de “esquecer” e enfrentar a situação.
Puro engano! Numa situação como é a morte, as pessoas sentem necessidade de expor o que estão sentindo – a saudade, o medo, a falta, a raiva, a tristeza e muitos outros sentimentos são despertados numa situação como essa.
Uma escuta sensível por parte dos educadores num momento tão difícil como esse pode fazer uma grande diferença. “Ao escutar o aluno, com seus medos, indagações sobre o morrer e a morte, o professor vai além da disciplinaridade, liberando o aluno a romper com a dicotomia entre o cognitivo e o afetivo. Refletir sobre a realidade vivida dos alunos, valoriza-se cada um em particular, e possibilita um diálogo aberto e plural das necessidades que esses alunos apresentam” (Ariana, 2008, p.24).
O luto não deve ser calado. Silenciar a morte é assumir uma atitude de indiferença perante a situação. É responsabilidade dos profissionais da educação criarem uma postura diferente para lidar com o assunto. Kovács (2003) expressa muito bem esse desejo: “Cabe aos profissionais engajados no processo de rehumanização da morte abrir espaço para a expressão da dor, do sofrimento, numa atmosfera acolhedora, não compactuando com o silenciamento e abafamento trazidos por uma sociedade que fala sobre o ser forte , ou pelo menos discreto e, quando se trata de morte, não incomodar. Um ouvido disponível tem melhor efeito do que calmantes”.
Desejo que a Escola Bom Jesus, junto com seus educadores, consigam fazer o seu papel, enquanto instituição de educação, dando todo o apoio aos familiares, alunos e funcionários, os quais estão passando por uma “dor” tão difícil de suportar.

REFERÊNCIAS:

KOVÁCS, Maria Jùlia. Educação para a Morte: temas e reflexões. São Paulo. Casa do Psicólogo: Fapesp, 2003.

MAGALHÃES, Ariana T. de O. As Representações Sociais da Morte para Professoras e Pais em Instituições de Educação Infantil. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, UnB: Brasília/DF, 2008.
Ariana Trindade de O. Magalhães
Pedagoga, Psicopedagoga, Especialização em Sexologia, Mestre em Educação pela UNB.

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